19.1.13

Gravura, por que gravura? com Adriano Castro.

A gravura vai muito bem obrigado e a Bahia não tem só belas praias, baianas e acarajé.
Nosso país, terra fertil de grandes artistas gravadores, a Bahia tem como ícone o nosso Hansen Bahia (1915/1978), assim como o mestre Duda, vivendo na cidade de Salvador mas muito pouco divulgado em outros estados.
 Mestre Duda, que em outra postagem estarei falando, contribiu e muito ainda contribui com os artistas que por ele passaram pelos caminhos da gravura, como exemplo do nosso entrevistado de hoje, o gravador e professor da UFBA,  Adriano Castro.


Adriano Castro ao lado de um Goya

GRAVURA, POR QUE GRAVURA?

Não creio que eu tenha escolhido a técnica, acredito que foi a técnica que me escolheu (risos)
Penso que após ter experimentado um pouco da dita “arte contemporânea” e ter até recebido alguns prêmios com isso em salões e bienais, vi que nada daquele universo me fascinava, pois tudo poderia ser arte e eu não via ali a “mão” do homem em sua labuta entende? Apenas o conceitual, a idéia, que muitas vezes precisa de “bula” para poder ser entendida.

Não consigo compreender como uma sala cheia de tijolos espalhados pelo chão pode ser considerada arte e valer milhares de dólares. Este tipo de “arte” não me convence e não me interessa nem um pouco. Não tenho nada contra a arte contemporânea, apenas ela não me apetece como é apresentada atualmente.

Talvez eu seja obtuso mesmo neste aspecto. Só sei que procurava uma técnica onde eu pudesse de fato utilizar ferramentas, experimentar suas técnicas e algum processo em que eu pudesse perceber suas nuances, acho que é isso que me fascina na gravura, a labuta, o trabalho, o esforço, a tentativa de acerto através do erro, a manufatura da matriz, com seus gestos e seu próprio “tempo”, o talento para poder imprimir certo, e por fim a persistência para atingir os objetivos pré-estabelecidos.

QUEM FORAM SEUS MESTRES, ONDE ESTUDOU? CONTE SUA TRAJETÓRIA.

Comecei frequentando as oficinas de arte do MAM Bahia em 1992. Eram oficinas de pintura contemporânea e aquele foi meu primeiro contato com arte. Em 1995 entrei como aluno na EBA/UFBA e finalmente lá pude ter contato com a xilogravura, a gravura em metal, a serigrafia e a litografia.

Devo confessar que a princípio a “disciplina” e a dedicação que a gravura necessita, me intimidava e dela me afastava , justamente porque era mais “fácil” enveredar pela arte contemporânea, que tudo aceita.

Mas persisti e assim em 1995 comecei minhas experimentações na técnica, o que muito ajudou no futuro a definir a gravura como expressão de meu trabalho. Meus mestres foram poucos, na parte prática e didática, mestre Duda, um autodidata da EBA/UFBA que faz xilogravura desde a década de 60, e que me ensinou muitos “pulos do gato” e macetes, tanto de ferramentas quanto de tintas, solventes, afiação dos instrumentos, papeis, vernizes, etc. Dicas que me ajudam até hoje.

Na parte teórica, os mestres Dürer e Goya. Digo teórica, pois apenas através de livros e catálogos, nós brasileiros podemos ter acesso às suas maravilhosas obras e suas influências foram nas técnicas e na temática.

Após me formar em Artes Plásticas pela EBA/UFBA, resolvi fazer o mestrado em gravura, justamente por já ter sido completamente dominado pela técnica.

Fiz o mestrado em Gravura Urbana, que é uma das novas variantes da gravura contemporânea. O meu conceito de gravura urbana é levar qualquer técnica de gravura para as ruas, em grandes formatos. Retirar a aura de sacralidade da gravura e levá-la mais para perto das pessoas em suas deambulações cotidianas. Particularmente, utilizo a serigrafia e a infogravura em sua produção. Hoje em dia dou muitas palestras sobre esta temática em diversos países do mundo como Portugal, Espanha e Porto Rico, sendo também professor de gravura da EBA/UFBA.

Como o Brasil é um país que não dá o devido valor a técnica da gravura, e seus salões e bienais específicos nessa técnica não são regulares, desde 2005 participo ativamente de exposições internacionais de gravura em diversos países, Portugal, Espanha, França, México, Argentina, Venezuela, Romênia, Canadá, Bósnia, Japão, Bulgária, Malásia, Sérvia, etc.
Ano passado fui convidado para ser o curador/comissário da Bienal Internacional de Gravura de Alijó – Portugal, para o Brasil.

FALE UM POUCO DE SUA TÉCNICA

Em relação às técnicas por mim utilizadas, devo dizer que ainda não consegui me prender a uma técnica específica. Gosto de transitar por todoas as técnicas, até porque sou professor e isso me ajuda a não “esquecer” de nenhuma delas, pois estou sempre praticando e na universidade, a cada semestre ministro uma técnica diferente. O que posso afirmar é que tenho fases, como a fase da xilogravura, de gravura em metal, de serigrafia, linóleo, etc. Cada fase desta dura em média três anos e aí passo a fazer outra técnica. Nos últimos anos tenho produzido muita água-tinta e gravura urbana que tenho produzido em serigrafia de grandes formatos, colocando-as nas ruas, gerando um impacto visual nos transeuntes da cidade. A gravura urbana também pode ser produzida através do computador, onde trabalho sobre a imagem de uma de minhas monotipias, posteriormente imprimindo sobre papel de outdoor que uma durabilidade muito maior.
Quando produzo no computador, chamo-a Infogravura Urbana.

QUE PENSAS DA GRAVURA HOJE?

O futuro da gravura hoje em dia está sendo debatido em todo o mundo, agora mesmo na Bienal Internacional de Gravura de Alijó em Portugal, participei de um debate sobre os rumos da gravura em Portugal e no mundo e pelo que vi e tenho visto, atrevo-me a declarar que o futuro está sendo pensado em duas vertentes: a gravura não tóxica e a gravura experimental.

A primeira por razões óbvias, sendo boa para todos, pois seu processo pode ser feito a base d’água, sem utilizar química que geralmente se faz uso na gravura tradicional, como solventes, etc. Um passo importante que com certeza, escolas e faculdades de arte deverão levar em consideração no futuro.

Também participei recentemente de uma oficina de “nom toxic print” com o gravador e professor porto-riquenho Fernando Santiago, mestre no assunto, onde dizia da importância em se levar a gravura “limpa” às escolas e universidades do mundo.

Portanto, acredito que a experimentação na gravura, agregando novas e diferentes técnicas à gravura tradicional, é o caminho para que volte a ser respeitada e ter seu devido lugar nas artes, sem jamais esquecer ou menosprezar as técnicas ditas originais, como a gravura em metal, a xilo e a lito.

contato com o artista: adriano.deedee@gmail.com


 
Agumas obras do artista



Adriano em ação com sua gravura urbana







gravura em metal (água-tinta)



Adriano Castro (1968-)
Formado em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, Mestre em Gravura Urbana pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Comissário/ Curador da Bienal Internacional de Gravura de Alijó/Portugal para o Brasil.

Tem participado em importantes bienais de gravura em diversos países como Bulgária, Romênia, Espanha, Malásia, Japão, França, Bósnia, etc, além de salões no Brasil dentre eles em 2004 no V Salão de Artes do Amapá; em 2001 no XXXIII Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba/SP, etc.
Já realizou inúmeras exposições individuais, destacando-se em 2012 na Universidad Menendez Pelayo) Valencia/Espanha e em 2007 no Sofitel Sauípe, Salvador, Bahia

Recebeu os seguintes prêmios: 2008 – Diálogos Estéticos da Fundação Cultural do Estado da Bahia; 2001 – XXXIII Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba – Prêmio Aquisição; 2000 – Levis a Cara do Brasil – Prêmio Júri Popular; 2000 – V Bienal do Recôncavo – Prêmio Aquisição; 1999 – XXVII Salão Regional de Arte da Bahia – Prêmio Oficial; 1999 – XXVI Salão Regional de Arte da Bahia – Menção Honrosa; etc.

Suas obras fazem partes dos acervos da Pinacoteca de Almonte/Espanha; Museu Hermitage /França; Museu de Arte Contemporânea de Goiânia; Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana; Museu Florean/Romênia; Museu de Arte de Sakima/Japão; Prefeitura Municipal Sarajevo, Bósnia; Escola de Belas Artes da UFBA ; Centro Cultural Casa de Los Arcos, Venezuela; Centro Cultural de Feira de Santana, Bahia; Centro Cultural Dannemman São Félix, Bahia; Coleção Gilberto Chateaubriand; Coleção Fabio Cimino São Paulo; Coleção Marilú Cunha Campos, São Paulo; Galeria Prova do Artista Salvador, Bahia; Galeria do EBEC Salvador, Bahia e Levis do Brasil São Paulo.

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